Infecções dentárias: como problemas na boca afetam sua saúde geral
A maioria das pessoas associa problemas bucais apenas a dor, cáries ou mau hálito. No entanto, uma infecção dentária não tratada — seja uma cárie avançada, um abscesso ou uma gengivite crônica (periodontite) — é, na verdade, uma ameaça que vai muito além da sua boca.
Infecções bucais são portas de entrada para bactérias perigosas que podem viajar pela corrente sanguínea e causar danos graves e permanentes em órgãos vitais como o coração, pulmão e os rins.
Neste artigo, vamos explicar o que é esse risco sistêmico e por que a disciplina na higiene bucal e as consultas regulares ao dentista são a sua linha de defesa mais importante para proteger não só o seu sorriso, mas todo o seu corpo.
Continue lendo para saber mais.
O caminho da infecção: da boca ao resto do corpo
A boca é um ambiente complexo e o lar de milhões de bactérias. Em condições normais, elas são inofensivas. O problema surge quando a higiene é negligenciada, permitindo que a placa bacteriana se acumule e se infiltre nos tecidos.
A porta de entrada: inflamação e feridas

Quando uma infecção bucal se estabelece (como na periodontite, uma inflamação grave das gengivas), os tecidos ficam inflamados, inchados e, muitas vezes, com pequenas feridas. É nesse momento que o risco sistêmico começa:
Colonização bacteriana: as bactérias nocivas se proliferam na gengiva ou na raiz do dente (abscesso).
Acesso à corrente sanguínea: através dos vasos sanguíneos fragilizados e inflamados na área da infecção, essas bactérias conseguem entrar na corrente sanguínea (bacteremia).
Viagem pelo corpo: uma vez no sangue, as bactérias e as substâncias inflamatórias que elas geram circulam livremente, buscando “alvos” em outras partes do corpo, especialmente órgãos que já possuem algum tipo de inflamação ou predisposição.
Em casos mais raros e extremos, uma infecção bucal descontrolada pode levar à sepse (septicemia), uma reação generalizada e potencialmente fatal do organismo à presença de bactérias.
Entenda melhor o assunto com o Dr. Luis Francisco Coradazzi:
Os órgãos em risco: problemas no coração, rins e outras complicações
A ciência moderna já estabeleceu uma forte relação entre a saúde bucal e diversas doenças, sendo as mais notáveis aquelas que afetam o sistema cardiovascular e renal.
Doenças do coração são a principal causa de morte no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Parte delas está potencialmente associada a infecções na cavidade oral, que muitas vezes poderiam ter sido evitadas
– Conselho Federal de Odontologia
Risco cardíaco: como afeta o coração
A principal preocupação é a endocardite infecciosa, uma infecção rara, mas gravíssima, da membrana interna das válvulas e câmaras cardíacas (o endocárdio). Pessoas com doenças cardíacas pré-existentes são especialmente vulneráveis.
- Periodontite e aterosclerose: estudos mostram que a inflamação crônica causada pela periodontite contribui para o aumento de placas de gordura nas artérias (aterosclerose), elevando o risco de Infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC). As bactérias bucais, como a P. gingivalis, já foram encontradas nessas placas ateroscleróticas.
Risco renal: a sobrecarga dos rins
Os rins são responsáveis por filtrar o sangue e remover toxinas. Infecções bucais crônicas e a inflamação sistêmica que elas geram sobrecarregam esses órgãos: 
- Agravamento da doença renal crônica (DRC): pacientes que já possuem Doença Renal Crônica têm um risco significativamente maior de mortalidade se também tiverem periodontite. A inflamação constante dificulta o trabalho dos rins e pode acelerar a perda de função renal.
- Marcadores inflamatórios: a presença de infecção bucal eleva os níveis de marcadores inflamatórios no sangue, que contribuem para o estresse e o dano aos néfrons (as unidades filtradoras do rim).
A higiene bucal como barreira de proteção essencial
A boa notícia é que esse ciclo perigoso pode ser quebrado com ações simples, mas constantes. A prevenção é a única forma de garantir que as bactérias fiquem confinadas à placa bacteriana e não entrem na sua corrente sanguínea.
Excelente escovação: o mínimo diário
- Frequência e duração: escove os dentes pelo menos três vezes ao dia, dedicando no mínimo 2 minutos em cada escovação. Use uma escova de cerdas macias e creme dental com flúor.
- Técnica: não se esqueça de escovar todas as superfícies e, principalmente, a linha da gengiva e a língua. A pressa é a principal inimiga da escovação eficaz.
O uso indispensável do fio dental
- A escova de dentes atinge apenas 60% da superfície dental. O fio dental é o único capaz de remover a placa bacteriana e os restos de alimentos dos espaços entre os dentes e abaixo da linha da gengiva.
- Hábito Noturno: Adote o hábito de usar o fio dental todas as noites antes de dormir. É o momento crucial para remover os resíduos acumulados durante o dia.
A rotina inegociável com o dentista

Mesmo com a melhor higiene em casa, há problemas que só um profissional pode resolver.
- Consulta de 6 em 6 meses: a consulta regular ao dentista é fundamental para a profilaxia profissional (limpeza), que remove o tártaro (placa endurecida) que não sai com a escovação.
- Detecção precoce: o dentista pode identificar cáries iniciais, gengivite ou sinais de periodontite em estágios precoces, evitando que a infecção se aprofunde e se torne uma ameaça sistêmica.
Agora você sabe que a saúde bucal não é um luxo ou um tema de vaidade; é um pilar da sua saúde integral. Problemas infecciosos na boca comprovadamente impactam o coração, os rins e dificultam o manejo de doenças crônicas como o diabetes.
Lembre-se: uma infecção bucal não tratada é uma bomba-relógio para a sua saúde geral.
Não espere a dor para agir. A prevenção é simples, acessível e a maneira mais eficaz de garantir que as bactérias fiquem onde devem ficar: longe da sua corrente sanguínea.
Proteja seu sorriso, proteja seu corpo!

Dr. Luis Francisco Coradazzi
Doutorado e especialista em Implantodontia pela Unesp - SP.
Mestre e Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacil pela Universidade Estadual Paulista pela Unesp - SP.
Professor e Coordenador do curso de especialização de Implantodontia pela Orthoplace / IPPEO – GO,
Revisor da revista internacional JOMI – The international Journal Oral Maxilofacil Implants.
Uma dor de dente leve pode ser perigosa?
Sim. Uma dor de dente, mesmo que leve, pode ser o primeiro sinal de uma infecção na polpa ou na raiz. Se a dor persistir, o problema pode evoluir para um abscesso (acúmulo de pus) que facilita a entrada de bactérias na corrente sanguínea. Consulte um dentista imediatamente.
O que é endocardite e qual a relação com o dente?
Endocardite infecciosa é uma infecção grave do revestimento interno do coração. As bactérias presentes em infecções bucais, como as causadoras da periodontite, podem se deslocar pelo sangue e se alojar nessa região do coração, causando danos severos.
Qual a frequência ideal para ir ao dentista?
O ideal é realizar consultas de check-up e limpeza (profilaxia) a cada seis meses. Pacientes com doenças crônicas (como diabetes ou problemas cardíacos) ou histórico de periodontite podem precisar de acompanhamento mais frequente.
Quais são os principais sinais de que uma infecção dentária está se agravando?
Fique atento a: inchaço persistente na gengiva ou face, dor intensa que não passa com analgésicos, febre inexplicável, mau hálito constante e sangramento gengival frequente. Se houver inchaço que se espalha rapidamente, procure atendimento de emergência.



